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Durante o mês de janeiro, percorri diversas lavouras de café. Embora a minha amostra de fazendas visitadas em 2025 seja ainda limitada para fornecer uma estimativa precisa da produção para esta safra, gostaria de compartilhar alguns cenários observados no Sul de Minas, Alta Mogiana e Cerrado Mineiro:
• Muitas lavouras mais velhas, que tiveram uma produção alta em 2024, devem enfrentar uma queda significativa na produção em 2025 devido ao ciclo de bienalidade do café. Esse ciclo natural, caracterizado por anos alternados de alta e baixa produção, leva a uma expectativa de safra reduzida para este ano. Em alguns casos, produtores já projetam colher em 2025 apenas metade do volume obtido no ano passado.
• Lavouras novas estão mostrando um bom desempenho, com expectativas de repetição dos resultados positivos observados em 2024. Essas lavouras, que geralmente possuem plantas mais vigorosas e produtivas, têm contribuído de maneira significativa para a manutenção da produtividade nas fazendas, compensando, em certa medida, a queda nas lavouras mais antigas.
• No entanto, algumas lavouras sofreram os efeitos das altas temperaturas e da falta de água em certos períodos. Esse estresse hídrico e térmico resultou em consequências negativas, como o abortamento de flores e o menor pegamento de frutos, o que comprometeu a produção nas áreas mais afetadas. O impacto da escassez de água foi particularmente perceptível em regiões onde a precipitação foi insuficiente durante os meses críticos do ciclo produtivo.
• Em contraste, as lavouras que adotaram sistemas de agricultura regenerativa mostraram uma resistência considerável aos efeitos das altas temperaturas e da falta de água. Isso se deve, em grande parte, à proteção do solo proporcionada pela cobertura com plantas de cobertura e pela prática de regeneração do solo. Tais práticas, que envolvem o uso de compostagem, adubação orgânica e o manejo adequado da microbiota do solo, garantem maior suporte às plantas, aumentando sua capacidade de suportar períodos de estresse climático.
• Em algumas regiões isoladas, foram observados outros cenários distintos: fazendas que possuem sistemas de irrigação, por exemplo, estão apresentando boas expectativas de safra, devido à capacidade de suprir a demanda hídrica das plantas durante períodos críticos. No entanto, também houve casos em que, mesmo com a presença de irrigação, a disponibilidade de água foi insuficiente, prejudicando o desempenho das lavouras. Além disso, lavouras em que se utilizou produtos como o “Keep Green” mostraram resultados promissores, com plantas mais resilientes e melhor capacidade de recuperação após os estresses climáticos.
Esses cenários refletem a diversidade de tratamentos, práticas agrícolas e realidades que encontramos em diferentes regiões produtoras de café. Cada fazenda enfrenta seus próprios desafios! O panorama deste ano é complexo e exige uma análise detalhada de cada contexto específico para definir as melhores abordagens para enfrentar as adversidades.
A primeira estimativa divulgada pela CONAB para a safra de café brasileira de 2025 aponta uma produção total de 51,8 milhões de sacas de café beneficiado, o que representa uma queda de 4,4% em comparação com a produção de 2024.
Outro alerta importante divulgado pela CONAB foi sobre o cenário global do café, que aponta uma maior restrição na oferta. De acordo com as projeções, os estoques de café estão em níveis historicamente baixos, o que, combinado com uma demanda crescente no mercado internacional, pode gerar um cenário de preços mais elevados e maior competição pela oferta disponível.
Com esse panorama em mente, seguimos de perto os acontecimentos no campo. Ao longo do mês de fevereiro, nossa equipe continuará acompanhando diversas lavouras de café, trocando informações com produtores e realizando visitas técnicas para melhor entender as condições e as expectativas para a safra deste ano. Como sempre, estamos otimistas e torcendo pelo melhor que a safra de 2025 pode nos oferecer, confiantes de que, com o empenho dos produtores e as condições adequadas, ainda é possível alcançar bons resultados.
Este ano, a dinâmica do mercado global de café e os desafios climáticos exigem uma atenção redobrada e um trabalho conjunto entre os diferentes agentes do setor, desde os produtores até os especialistas, para garantir a qualidade e a sustentabilidade da produção.
Sobre a autora: Bruna Souza é Engenheira Agrônoma, Analista de Sustentabilidade e faz parte do time de Sustentabilidade na Bourbon Specialty Coffees.